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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Da Vida (sopro)

"...foi assim uma aventura, cheia de problemas e desencontros, desconforto... [...]. Mas havia determinação do JK, e a coisa prosseguiu.
Porque eu acho que a vida é assim. A gente tem que separar as coisas.
A vida é chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos de tranqüilidade e brincar um pouco. Depois, os outros é agüentar.
A vida é um sopro né?“

Excertos de um depoimento de Oscar Niemeyer para o filme A Vida é um sopro

Há dias que andava firme em torno da decisão. É a única racional a tomar. Pensava então. Penso hoje, também.

Mas há dias em que se intromete um insidioso "se...". Decerto que o conheço - não sei se lhe chame uma verdadeira dúvida relativamente ao acerto da decisão tomada ou se uma esperança de que a mesma esteja errada.

Hoje, foi um (de vários, enfim...) desses dias. Acordei sem o conforto de te saber por cá, sem a feliz expectativa do momento em que partilharíamos as pequenas coisas e loisas do nosso dia a dia; em que, por palavras (repetidas mas sempre calorosamente novas e tão nossas) ou por atitudes e atenções íamos expressando amorosamente o sentimento que nos une. Foi um dia de saudade.

Hoje, foi um desses dias. Um aperto no peito... Uma saudade... E... Se...

A decisão é certa, não vacila. Mas... e se as suas premissas não estiverem correctas?... e se há alguma coisa que jexplique este comportamento?... e se aconteceu alguma coisa?...
A decisão já não era tão certa. Um "se" de dúvida que se foi transformando em "se" de preocupação.

E estas palavras de Niemeyer que por acaso encontrei: pareciam um sinal. Não que eu acredite neles...

Tudo me impelia. Mais a minha vontade, a minha saudade e uma tremenda esperança (de onde me vem?!...).

Falei. Constatei que não havia acontecido nenhum acidente (ainda bem!) nem sequer surgido um obstáculo novo. Palavras desconexas. Algumas palavras de circunstância. Fiquei vazia. Estou vazia.

A vida é um sopro. Mas tu não estás cá.





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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Da Despedida (gesto)

Despedi-me do teu peito:
Do lugar onde repousava a cabeça
Do afago onde buscava conforto
Da curva terna onde eu me completava...

Despedi-me do bater do teu coração:
Da melopeia que me embalava
Do retumbar onde eu lia o teu amor
Do troar que nos tornava um.



Sózinha, reparo que me despeço mais de mim - do que fui, do que procurei, do que entreguei - do que de ti.


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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Da Sabedoria (presságio)

"Mais tarde, muito mais tarde, talvez se lembrasse das mãos dele sobre as suas, como um ferimento no peito; então desejou que a neve também apagasse esse ferimento ainda distante."

excerto de Lunário da autoria do Poeta Al Berto
 
 
Estranho como nas palavras de alguém vemos reflectido com exactidão e clareza aquilo que não conseguimos - tememos? - descrever!

Inquietante como revejo um sentimento tão íntimo espelhado nas palavras de um dos Poetas favoritos daquele que me causa esta ânsia.

Como se fosse um presságio.
 
Só que o meu ferimento não é distante. Instalou-se por cá. Temo que apenas aguarde a neve do tempo para se ir esbatendo.
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Do Mistério (partilha)

"Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos"
excerto do poema O Navio de Espelhos, de Mário Cesariny














Fotografia da autoria de Francisco Barbosa
A quem agradeço a generosa atenção e a maravilhosa dádiva


Inseridos em portentosa e surreal alegoria, a imagem destes dois verso abre o poema e prepara o espírito a quem lê as palavras inquietas e se revolta nas suas metáforas duras e escuras.
Estes dois versos impelem-nos a sermos, independentemente de tudo o que nos rodeia não ser aquilo que desejamos.
Dizem-nos que podemos viver no fio da navalha (entre o sol e lua), que podemos iluminar caminhos (ser farol...).
Dizem-nos que, contra todas as evidências e expectativas, podemos ser aquilo a que aspiramos.
No mistério que é o encadear dos momentos na vida de cada um, eis-me comovida perante este sortilégio: palavras que não me foram proferidas, mas palavras que tomo para mim: mais do que esperança, urgem-me a que construa o meu caminho, transformando - não me quedando no crepúsculo. Melhor ser Sol. Ou pelo menos Lua.
Bem que precisava desta partilha.



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