"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração"
excerto de Samba da Benção, de Vinicius de Moraes
Ontem assisti ao filme "Comer Orar Amar". Mais um filme onde a vida atinge um ponto de ruptura, onde o horizonte é de desnorte, seguindo-se uma caminhada redentora que culmina num novo ponto de ruptura - desta vez feliz. Feliz para sempre...
Parece que na vida "real" estas coisas acontecem mesmo (o livro que serviu de base ao filme relata uma experiência concreta). Quantas vezes enfrentamos os nossos desnortes, as nossas dúvidas?
Pensei no meu percurso pessoal. Perguntei-me se eu poderia arriscar uma mudança tão radical, tão livre (porque não controlada) na minha vida. A primeira resposta veio-me em forma de dificuldades: o vínculo laboral, o custo, as responsabilidades, a incompreensão dos que vivem comigo... Aqui parei para repensar a resposta, claro. A incompreensão dos outros? Vivo para os outros? Espero a sua aprovação?! Se fosse crucial para mim, não iriam compreender e apoiar-me?
O caminho dos pensamentos é perigoso. Voltei atrás, que é como quem diz a mim própria: tenho, de facto, vontade de empreender uma procura destas? Se pensar na "aventura", na viagem geográfica pura: gostaria, pois. Mas é viajar, apenas. Partir e saber que volto ao ponto de onde parti: o lugar geográfico, o espaço físico, mas, sobretudo, para o lugar dos afectos. Para "os meus".
E ainda me perguntei se tenho necessidade de fazer esta viagem. Embora de forma não definitiva, a resposta parece-me ser um não. Sei quem sou, procuro sê-lo o mais possível e cada vez mais vou conseguindo ser.
No final do filme, a palavra-chave da protagonista chegou: "attraversiamo" (atraversamos). Esta poderá ser também, julgo, a palavra-chave da minha vida: atraversar os momentos com todos e com tudo que eles carregam: a alegria, a tristeza, o risco, o certo... É sempre no certo que ancoro o risco e na alegria que ultrapasso a tristeza.
Dentro de mim sei que atraverso os meus momentos numa sucessão de ofertas e de dádivas, onde o sofrimento e os obstáculos se vão superando com empenho, com carinho e com alegria. A tristeza, a solidão e o desencanto existem, claro. Mas são atravessados. Porque alegria é a melhor coisa que existe.
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