Páginas

sábado, 29 de maio de 2010

Da Alegria (bálsamo)

"Prazer de renegar e de destruir o tédio,
Esse estranho cilício,
E de entregar-me à vida como um vício."
Excerto de Alegria, poema de D'Aquém e D'Além Alma de Fernanda de Castro (aqui)

Gosto tanto da fortuna que esta Poetisa nos legou!
Não preciso de dizer aqui da sua obra, da revolução das suas palavras, da inovação da sua mensagem, da sua singular vida... Acho que, muito faltando para dizer (nunca se dirá tudo...), outros estão, de facto, mais habilitados para o fazer.

Mas preciso de dizer aqui o muito que a mim, particularmente, legou.
A começar pela compreensão desta Alegria, inerente à vida, a que cada vez presto mais atenção - à vida enquanto génese, à alegria enquanto paradigma de vida.

Sendo, por si, uma palavra radiosa, quase contagiante (uma palavra amarelo-girassol ou azul-turquesa) só consegui dar-lhe o poder que tem sobre a vida quando, há uns anos já, li este poema, do qual excertei os dois versos acima (tão reveladores como quaisquer outros do poema - escolhidos apenas pelo seu poder de síntese).

A descoberta foi motivada por um dito da Poetisa: "eu estou sempre comigo, nunca estou sou" (não é citação literal). Longas semanas matutei nisto. É uma observação estranha, não é?

Até então, sempre que me encontrava sozinha com os meus pensamentos (com a minha própria companhia) encontrava-me em profunda, desoladora e penosa solidão. Mas eu estava errada. Nesses momentos era - é - quando estou comigo de forma mais plena, mais consciente de mim e a emoção mais inquietante que surge não é a solidão: é a saudade. A ânsia de, além de me ter, ter mais alguém comigo.

Parece a mesma coisa? Não é! Definitivamente, não é.
Não significa também que eu me baste, nem significa que a minha companhia é mais (ou menos...) que a dos outros - significa que me dou momentos de maior intimidade comigo e, nesse sentido, me conheço e vou reduzindo a capacidade de me dispersar, de me desagradar, de ser aquilo que não quero ser.

Esta Alegria surge na sequência - aceitar-me, ser para mim a minha primeira prioridade (só sendo eu, posso ser para os outros em plenitude), saber-me sempre em companhia é já motivo de alegria.

Saber-se que se vive - e a vida é a única realidade positiva que, de facto conhecemos (por contraponto com a morte) - e saber que, a cada experiência vivida, se compõe importantíssimo património para vida futura ainda mais vida é, certamente, grande Alegria.

Encarar-se o agora - por mais vulgar, rotineiro ou sofrido que seja - como a espera das surpresas do amanhã é... um bálsamo. Uma Alegria.

Onde quer que viva hoje, certamente em Alegria, aqui lhe deixo um agradecimento sincero e comovido por esta dádiva!

Sem comentários:

Enviar um comentário