A palavra silêncio é uma rosa chá."
extraído do poema Partilhar de José Carlos Ary dos Santos (aqui)
Gosto tanto destes versos. Ao contrário de muitos outros, não os consigo separar. Sempre que tento reduzir a imagens menores, há algo que falta, há nos que selecciono uma mensagem clara alertando para a mutilação. E, às vezes, a mensagem é gentil - quando faltam as rosas rubras, mas muitas outras a mensagem é uma ventosa interpelação - porque faltam as rosas chá.
As rosas rubras são mais ariscas a pedir o que lhes falta... será que, até elas, sabem que lhes falta a ternura?...
E isto sempre me lembra da necessidade do equilíbrio - não se concebe (embora se deseje) um mundo rosa chá, porque o sal da vida está, claro, nas rosas rubras.
O problema é que, não conseguindo separar estes versos, estes, em conjunto, são um mundo que me permitem apenas uma interpretação limitada - ainda mais limitada do que as outras, quero dizer!.
Acho particularmente desafiante a imagem do sarcasmo enquanto rosa rubra. Como ligamos esta última ao Amor (a rosa vermelha, a rosa escarlate, a rosa encarnada, a rosa rubra, mas sempre a rosa-sangue-pulsante...), contagiamos o sarcasmo (arma tão subtil quanto cruel...) com toda a fertilidade, não do amor, mas pelo menos da paixão.
E talvez não sejam as palavras amenas que nos incendeiam - talvez sejam estas, as cruéis, que desencadeiam em nós revoluções, erupções, incontroláveis e desmedidas emoções. As verdadeiras, as que não intelectualizamos. E, digo, serão essas as rosas rubras que permitem a nossa evolução - interior, em relação ao outro, em relação ao mundo, ou mesmo do próprio mundo.
E a palavra rosa chá? Será "só" o silêncio? E pode o silêncio ser "só"?
Esta é uma imagem magnífica! Apresenta-nos o conforto (chá), a cumplicidade (silêncio), a ternura (não a alvura do branco, mas a placidez da cor de rosa chá), a partilha (da rosa, o aroma).
A palavra leva o nosso mundo ao outro - seja esse outro quem for.
E o nosso silêncio leva o nosso mundo ao "nosso" outro. O nosso silêncio é o espaço de ternura, de amor em que eu e tu vivemos. Só nós. Só nós - eu e tu - que partilhamos este silêncio, trocando esta rosa chá.
Magnífico!
Para ti. Que conheces o meu silêncio que, de ti, cobra sempre, sempre muitas palavras.
Por mais silêncio que receba...
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