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sábado, 29 de maio de 2010

Da Sementeira (futuro)

"há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar"
excerto do poema You Are Welcome to Elsinore de Mário Cesariny (também aqui)
Novamente o Poeta da Liberdade - da liberdade de ser, quero dizer. De ser o real, o irreal e o que entremeia e fica ainda além dos dois. Pois... surreal.

Gosto muito deste poema (soa banal - se fosse em inglês diria "I love this poem" - estaria perfeito: nem banal nem exagerado como soa em português "amo este poema"); da forma como todos os seus versos per si são já poemas; da forma como podemos conjugar os seus versos continuando estes a ser poemas; da forma como podemos extrair um pedacinho e este continuar a sê-lo per si, mesmo que não indiquemos onde o mesmo se encaixa.

Destes dois versos em particular - construídos, é bom que se note, apenas com palavras de todos os dias, do supermercado, das compras do mês, da escola das crianças e até da nossa conversa afectada de certos dias... - se retira o círculo em que levamos a nossa vida. Círculo porque segue seguindo, sem sabermos onde foi o início e sem antevermos o final. Uma confortadora ilusão de perpetuidade.
No primeiro verso, o futuro: cheio de promessas (porque nos esperam), cheio de prodígios (porque imensas), porque nos trazem aquilo que já hoje queríamos e por isso tão ardentemente esperadas; no segundo... não, não é de perda que se fala!
(Lembram-se que aqui tratamos as palavras que criam mundos?...)
O segundo verso é um amoroso alerta: que o futuro - a esperança - não nos deve tolher o presente, semente desse futuro. Porque as palavras imensas que esperam por nós brotam das frágeis que hoje vamos proferindo - não nos podemos esquecer de as dizer, para que elas não se percam, não desistam de nós.

Por causa desta re-leitura (embora as saiba de cor, gosto de ver o seu contraste na folha de papel; é como se ao vê-las no papel eu veja ainda, sempre novas, imagens e correlações que não sugem da mera rememorização das mesmas), fiz o que devia ter feito há muito tempo: enviei uma sms a alguém que amo dizendo-lhe isso mesmo (em português, porque é mesmo amo-te que quero dizer e não o esquivo I love you). Espero ter sido uma palavra do presente a frutificar num imenso futuro.
Havemos de saber.

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