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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do Espaço (fértil)

"em cada esquina um Amigo"

in "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso (aqui)


Num início de dia atribulado (duvido que haja palavra apropriada a acordar o sono que corre solto...), entre o corre-corre de tarefa em tarefa (pelo meio deixando as perfeitamente dispensáveis, ainda assim repetidas nos dias do vagar), o perder o comboio e apanhar o táxi... lá surgiu a palavra do dia.
"Corra até àquela esquina, há táxis logo ali!" Ainda há gente simpática, pensei.Quase no meu destino - a horas, que alívio! - rememorizei a ajuda. Esquina... Esquina...
Lentamente a esquina era música e palavras de uma canção.

"Em cada esquina um Amigo" - fora mesmo isso que acontecera. Na esquina de um dia, surge o Amigo que dá o conselho útil, oportuno. 
Na esquina faz-se Amigo - só por estar lá, atento (como os Amigos, diria). Nem sempre o vemos, porque dobrou a esquina.

Lembro-me de outras esquinas: aquelas que ultrapassamos em silêncio, quase em segredo, e nos permitem desbravar novos mundos, novos afectos, crescendo nós também. As esquinas da nossa mente, as esquinas que escondem as nossas alegrias e as nossas tristezas, como se fossem realidades bipolares.
Quantas vezes verdadeiras vias férteis! Quantas vezes vias dolorosas!

O caminho esquinado em torno desta palavra traz-me a lembrança de que ontem, mesmo ontem, perdi um Amigo. Perdi-o, apenas, numa esquina da vida. Eu segui em frente, ele dobrou a esquina.
Não quero pensar que não o encontrarei em mais nenhuma esquina (embora saiba que é isso mesmo que vai acontecer - provavelmente o melhor, até!), porque sei que há-de aparecer a esquina onde me apetecia encontrá-lo, disponível para o segredo, para o silêncio, ou até para dizer "Há táxis logo ali!"

Eu prefiro ficar por aqui - em todas as esquinas, mesmo as afiadas, para indicar o táxi, assim encontre (e procure!) os meus Amigos: os que também lá estão (duas mãos cheias), os que seguiram em frente (oxalá sejam ainda mais felizes), os que ainda aí não chegaram (e que ansiosamente espero).

Porque qualquer rua sombria, gelada e deserta pode, ao dobrar da esquina, dar lugar a um Sol aberto, onde a alegria aquece o coração!

P.S.: Cheguei mesmo a tempo.  Ao virar da esquina (sempre este espaço tão surpreendente...) recebeu-me o sorriso acolhedor da Pessoa que eu ia encontrar. E lá voltou o Sol!

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