não é nunca para apartar-se,
é porque cegamente a alma sente
que a forma possível de estar juntos
é uma despedida longa, clara
e que o mais seguro é o adeus."
excerto do poema Serás, Amor? do poeta espanhol Pedro Salinas
Nas minhas leituras distraídas de mais viagens que uma só semana poderia albergar encontrei o poema de Pedro Salinas do qual extraí os versos transcritos acima.
Não conhecia o poema. Embora a fácil analogia à vida (ou até ao terrível dito conformista "é a vida...") a forma elegante, pungente e amorosa como a fatalidade do adeus se nos revela é um bálsamo!
Escrito sob o mote de dois versos eloquentes e paradoxais no seu intento: "Serás, Amor, um longo adeus que não acaba?", todo o poema - estes versos em particular - são uma lição do que é um afecto imenso, do que é uma doação extrema.
E, talvez, não seja paradoxal pensarmos em amar como se fosse um adeus. Como se necessitássemos de ter sempre "em dia" a expressão e a forma dos nossos afectos. Expressá-los e vivê-los hoje e em todos os sucessivos hojes - os únicos momentos em que estamos seguros de o poder fazer. Amanhã, se for o adeus, tudo teremos feito, tudo teremos dito. O amanhã surgir-nos-á com saudade, com amor (ainda), mas nunca com arrependimento.
No Amor, como na vida: um longo adeus se desenha à partida.
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