que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti."
um imenso poema de Alexandre O'NeillQuase parece um poema de adeus, não é?
Mas é muito mais...
A plena consciência - a amorosa consiciência - do espaço que o outro vai deixar vazio é a própria consciência de que se ama. Não de "quanto" se ama: ou se ama ou não...
Não há cá amo-te "muito" ou outras declinações quantitativas... Admito um "amo-te tanto..." (já a raiar o excessivo) como que significando "não tenho como te exprimir o meu amor", mais que isso é tirar profundidade à espressão verbal desse sentimento...
Um "amo-te" não precisa de adjectivos, que qualificativos, de quantificadores e de outros retoques.
Amo-te.
É um grito - seja no sentido literal, ou um sereno e expressivo sussurro. Avassalador. Não deixa dúvidas. Não admite meias-medidas.
É. E basta - tanto!
Voltemos ao poema. Aprecio particularmente a economia de meios destes poemas de poucas letras onde cabe o nosso mundo, onde cabe o também o mundo do outro que abraçamos na vida.
Um espelho que sintetiza e nos revela o nosso mundo, envolto em diáfana ternura - como tudo o que construímos em sólidas fundações (liberdade, verdade), num espaço sempre aberto mas resguardado pelo nosso peito.
Viver o hoje como se não houvesse o amanhã. Valorizar o que temos, reverenciar, amar, proteger... Uma atitute sã, prudente - o amanhã, o daqui a bocadinho... são tão incertos! -, zelosa e amável para com a presença do outro... Afasta, certamente, a curva onde nos afastaremos dele... Permite-nos "tropeçar de ternura" (expressão incrivelmente bela, incrivelmente tocante) e ficar...
Tão bom quando a curva que nos há-de separar vai ficando mais longe, enquanto percorremos um caminho onde tropeçamos em carinho, em afecto, em amor.
E é assim que entendo este poema: não um adeus, ou uma certeza de um adeus.
A certeza de termos de continuar - e continuaremos - a cuidar da ternura.
Sem comentários:
Enviar um comentário