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sábado, 12 de junho de 2010

Da Melancolia (amor, ainda assim)

"e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia"
poema de Al Berto

O poeta do desassombro e o desassombro da mal compensada alegria...

Um poema que começa por prometer o mundo e termina num mundo despido - incluisive das palavras - embrulhado numa pacata melancolia - entre o doce (do paciente amor) e o vazio (da constatação do frio da lava).

Todas as esperas são uma imensa possibilidade, todos os planos uma quase certeza, todas as palavras são pontes, todos os gestos são partilha (são os meus? são os teus?), todas as expressões são de maravilha...

Em todas as esperas sonhamos - enquanto arrepiamos um insidioso "se" - a perfeição. E em todas as realizações nos espera um quê de desilusão, que nos impossibilita saborear as pequenas parcelas de perfeição, misturadas com outras de decepção e com outras ainda de redenção...

Quanto mais mundo esperamos - e quem sabe se nessa espera colocamos, de facto, todo o nosso talento de oleiro e a nossa maleabilidade de barro - mais esse mundo (não deixando de ser mundo!) fica aquém daquele que esperamos...

Escrevia João de Deus "Sei o que vai em teu seio cheio de mal compensado amor" (excerto de Os Olhos Falam) - não sei se porque amamos demais, se porque achamos que o nosso amor é maior (duvidosa constatação!), se porque o amor do outro é menor (consequência da anterior), se porque não somos capazes de perceber que essa é a capacidade do outro nos amar e, sendo-a, cabe-nos a nós aconchegá-la...

De uma espera tão ansiada, que tudo prometia, não creio que tenha enchido "o seio de mal compensado amor"... Mas a melancolia... ficou por cá!

Sempre à espera de ser expulsa em forma de terna alegria.

E, assim, continuo a esperar.

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