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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Do Querer (pátria)

"queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma!"
pequeno poema (mas grande mundo...) de Mário Cesariny
Dia de Portugal.
É feriado, mas despertei cedo. Como se fosse um normal dia de trabalho - por rotina, acho... Ou seria porque até dormindo sei que estamos a levar este país por um caminho errado e, isso, esmorece qualquer vontade de comemoração? Quase de vergonha impotente e inútil (porque não é acção, não constrói)?

Chovia - chove ainda - copiosamente... Céu escuro... Nem a Natureza parece feliz por este feriado. Nem a Natureza parece disposta a festejar Portugal e os Portugueses que vivem pelo mundo...

Sentia-me gelada... Lá enfiei novamente o casaco e as meias...
Mas ainda assim... varria-me uma aragem agreste, pungente...
O meu país: o único que vou conhecendo e desconhecendo; o único que me recebe, que me surpreende, que me desilude, que me tira - tantas vezes! - do sério, que me emociona...

Mas o que é o "meu" país? É uma terra cheia de recantos e encantos, é um legado de sabedoria e cultura, é uma herança de maravilhas naturais, é um povo acolhedor e pacato, é um riso mal contido subjudgado ao peso dos dias...
O meu país é todo este legado que nos confiaram, esperando que dele cuidemos e sejamos capazes de o passar às gerações vindouras em todo o seu esplendor.
Nós somos inquilinos deste país. Como o iremos passar aos que nos sucederem?...
Tenho receio da resposta... Melhor, não quero pronunciar a resposta. É como se, enquanto a palavra não for dita, não exista.

Tem de haver uma forma de transformar este dia tão triste no dia da nossa pátria. Tem de haver...
Procurei nas memórias de palavras que andam cá pelo meu espírito (uma confusão!...): encontrei estes versos de Mário Cesariny.

(Há uma editora cujo site abria com a declamação destes versos. Hoje já não é assim e, quando entro, parece-me sempre que já não sou bem-vinda: já não me espera esta saudação, a singular declaração de que eu poderia ser pátria...)

E estes versos porque definem uma pátria que todos podemos ser. E, sendo pátria, também poderemos ter.

O nosso mundo não são palavras - mas são as palavras que levam o nosso mundo aos outros, são as palavras que nos aproximam, são as palavras que nos podem fazer - cada um à sua medida - o nosso mundo.

Uma pátria como a que sonhamos: de bondade, de mistério, de partilha, de riso... suave como o perfume da rosa; clara e delicada como a espuma; imensa, perene e criadora como o mar!

Esse mundo começa em nós.

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