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domingo, 6 de junho de 2010

Da Promessa (solidão)

"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."


Rainer Maria Rilke, citado aqui
Sou de alguém que aprecia muitíssimo Rainer Maria Rilke.
Por isso, hoje procuro o meu mundo em algumas palavras de Rilke. Todas as que conheço, magníficas!
 
Primeiro nesta pequena citação, tão complexa, como complexo fazemos o nosso dia a dia. E, visto daqui, até parece simples: viver como se o tempo fosse ilimitado - é a forma como vivemos a nossa vida, como se o amanhã fosse certo. E tão incerto que ele é!...
Soubessemos isso e o beijo não ficaria para amanhã, e as palavras ardentes (o amo-te, o perdoa-me, o vem, o quero-te) e as palavras ternas (o gosto de ti, o desculpa-me, o estou aqui) seriam pronunciadas na altura certa - que é toda - e nunca tardiamente, quando já não têm o dom de mudar, de construir mundo.
Soubessemos isto e deixaríamos de ter relógio, passando a ter tempo; deixaríamos de ter agenda, e passaríamos a ter afectos...
 
Destrinçar entre o que é importante e o que é acessório. Sim, porque podemos ter estes e aqueles afazeres, mas se nos perguntarem o que é importante para nós, os afectos virão à cabeça da lista. Então, porque os adiamos?
 
Porque não dizemos às nossas crianças que irrompem casa dentro em grande euforia um "vou brincar contigo" e preferimos alertá-las para uma qualquer obrigação que não cumpriram?
 
Porque não dizemos aos nossos Pais o quanto são para nós, preferindo ignorar os seus reiterados queixumes e lamentos?
 
Porque não dizemos à pessoa que partilha a nossa esperança que ela é também a razão dessa esperança?
 
É de Rilke (julgo) a seguinte frase:
"Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra."
Hoje, aqui, te digo: tu proteges a minha solidão. Oxalá eu consiga proteger sempre a tua.

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